segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

'Não é justo quem mora em um Estado ter prioridade', diz Zema sobre vacina



Governador criticou governantes que estão anunciando acordos para a compra de vacinas antes da aprovação da Anvisa
Por RAFAELA MANSUR
14/12/20 - 12h33
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Governador defendeu plano nacional de vacinação contra a Covid-19

Foto: Uarlen Valério/O TEMPO

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), voltou a defender nesta segunda-feira (14) que a vacinação contra o coronavírus seja coordenada pelo Ministério da Saúde, por meio do Programa Nacional de Imunização. Zema criticou governantes que estão anunciando acordos para a compra de vacinas antes da aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e disse que todos os mineiros que desejarem serão vacinados.

"Infelizmente, muitos governantes têm se aproveitado dessa questão de forma política. Caso algum prefeito ou governador conseguisse uma vacina homologada, o que não existe ainda, só estaríamos provocando uma corrida maluca, um grande tumulto. Nós estamos trabalhando junto com o Ministério da Saúde em um programa nacional", afirmou Zema.

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"Se uma vacina que ainda não foi homologada pela Anvisa vier a ser homologada, ela vai ser distribuída nacionalmente, inclusive para Minas Gerais. Não é certo alguém de alguma cidade ou Estado ter tratamento prioritário ou injusto, ser colocado na frente ou no final da fila", completou, em coletiva de imprensa sobre o balanço das ações da saúde estadual no ano de 2020.

Na última semana, a Prefeitura de Belo Horizonte fechou acordo com o Instituto Butantan, de São Paulo, para garantir a imunização da população da capital contra a Covid-19 quando a CoronaVac, vacina desenvolvida em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac, for aprovada. O município também disse que espera poder contar com o Ministério da Saúde. O governo de São Paulo já anunciou que a vacinação no Estado começa no dia 25 de janeiro para grupos prioritários.

"Estamos assistindo a governantes e prefeitos procurando holofotes falando que vão colocar a vacinação na frente. Seria muito cômodo para mim assinar um punhado de papel e falar que já compramos a vacina para os mineiros, que o mineiro está garantido, mas não é assim que funciona. Vamos colocar o pé no chão. Vacinação, toda ela no Brasil, historicamente, foi conduzida nacionalmente e não vai ser diferente agora. Vamos sair do mundo da fantasia e entrar no mundo da realidade", disse Zema, que chegou a comparar a situação com a política venezuelana.

"O Hugo Chávez (ex-presidente da Venezuela, morto em 2013) e o Nicolás Maduro (atual presidente da Venezuela) estão iludindo os venezuelanos, tenho certeza que os mineiros e brasileiros são mais inteligentes. Nós precisamos de Angela Merkel no Brasil, e não de Nicolás Maduro e Hugo Chávez. Olha o que fizeram na Venezuela fazendo propaganda desse jeito", declarou o governador.

De acordo com o governo de Minas, o Estado adquiriu, até o momento, 50 milhões de seringas e agulhas, das quais 16 milhões estão em estoque, e 671 câmaras refrigeradas para o armazenamento das vacinas em 462 municípios.

A distribuição das doses vai seguir um fluxo já existente: o Ministério da Saúde entrega as vacinas na Central Estadual da Rede de Frio, em Belo Horizonte, que distribui o material para as 28 unidades regionais da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG). Cada regional faz o repasse das doses para os municípios de sua área de abrangência, que, por fim, as distribuem para as unidades de saúde locais.

Segundo o secretário de Estado de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, o Ministério da Saúde tem, em processo de compra, 260 milhões de doses da vacina de Oxford, produzida pelo laboratório AstraZeneca, 42 milhões do consórcio Covax Facility, 70 milhões da Pfizer, que estão sendo negociadas, e 46 milhões do Instituto Butantan. No entanto, nenhuma delas foi aprovada pela Anvisa até o momento.

"O número que nós temos demonstra que o brasileiro terá vacinação disponível. Se amanhã jogarem uma bomba em Brasília e não pudermos mais contar com o governo federal, temos todas as vacinas já mapeadas, os fornecedores, e temos recursos. Eu quero tranquilizar o povo mineiro de que ele não vai ficar sem vacina, temos planos B, C, D, E e F", afirmou Zema, sem detalhar que planos são esses.

Neste mês, o governo chegou a anunciar um plano paralelo para a vacinação e declarou que mantém negociações com a Covaxx, divisão da norte-americana United Biomedical, que está desenvolvendo um imunzante contra o coronavírus. No entanto, as pesquisas dessa vacina estão menos adiantadas do que as de concorrentes, e a previsão é de que os testes sejam finalizados até maio de 2021.

O chefe da SES-MG, Carlos Eduardo Amaral, ressaltou que, independentemente da vacina, o processo de imunização vai durar meses. "O que já se tem hoje de encomenda do governo federal já passa de 300 milhões de doses, o que daria para mais de 150 milhões de brasileiros, se formos vacinar duas vezes. Não existe um dia único de vacinação, vamos vacinando grupos até vacinarmos praticamente toda a sociedade. Teremos o ano de 2021, e quiçá até 2022, vacinando toda a população", declarou.

Ações de enfrentamento à pandemia

Em um balanço das ações da saúde ao longo deste ano, o governador Romeu Zema disse que o Estado agiu rápido, com a criação de um plano estadual de contingência e a ampliação de leitos. O número de leitos de UTI passou de 2.072, no início da pandemia, para 3.995, e os de enfermaria subiram de 11.625 para 21.066.

Segundo o governador, Minas Gerais tem, atualmente, a menor mortalidade proporcional por Covid-19 do país. "Infelizmente tivemos perdas de vidas em Minas Gerais, estamos caminhando para 11 mil óbitos, mas muito provavelmente não foi devido à falta de atendimento médico. Se o Brasil tivesse taxa (de óbito) equivalente a de Minas Gerais, teria poupado 75 mil vidas", disse Zema. Conforme os dados apresentados, o Estado tem 50 óbitos por 100 mil habitantes.

O secretário de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, ressaltou outras ações realizadas pelo Estado, como o credenciamento de leitos, um projeto de entrega de medicamentos em casa para grupos de alto risco para a Covid-19, o aplicativo de telemedicina e ampliação da testagem. Em recursos federais e estaduais, R$ 2,1 bilhões foram repassados a municípios mineiros, hospitais e unidades de saúde.

Amaral destacou o crescente número de casos de coronavírus no Estado e destacou a importância de as pessoas não se aglomerarem neste final de ano. "Contamos com todos os cidadãos de Minas Gerais para vencer essa guerra, a pandemia não acabou. É fundamental que todos nós continuemos a nos cuidar e também que cuidemos das outras pessoas", concluiu.

Orçamento

Segundo o secretário, Minas Gerais está fechando o orçamento com 12,9% dos recursos destinados à saúde neste ano, um valor próximo de R$ 7 bilhões. A legislação determina que os Estados devem investir, no mínimo, 12% de sua receita na saúde pública.

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